quarta-feira, 28 de abril de 2010

O ENTARDECER DE NOSSAS VIDAS


E a casa grande já não reflete o eco dos gritos das crianças a correrem freneticamente de um lado para o outro, trazendo nas solas dos pés as marcas de uma infância um tanto sofrida, mas também, cheia de esperanças. Hoje, vivemos para contar nas pontas dos dedos, quantos ainda restam e quantos já se foram. Como é sombrio e cheio de mistério o entardecer de nossas vidas! Quantas incertezas, quantas perguntas sem respostas. Se outrora soubesse que tudo passaria tão rapidamente, assim como as ondas que vêem beijar a areia e num toque de magia, se vão pra nunca mais, teria empenhado mais tempo em viver as grandes emoções. Teria cultivado, com mais intensidade, o carinho dos meus.

O que tento dizer com tudo isso, na verdade, é que a nossa vida deve ser regada com amor, com paciência, com dedicação, com delicadeza e, acima de tudo, com a essência da própria vida, pois só assim, poderemos deixar cravadas no tempo, as marcas de nossas realizações. Não precisamos mostrar vitórias ao mundo, a alma humana não se alimenta de troféus ou medalhas pois, a grande vitória é conquistada no mais intimo do ser. Não importa se ao final de tudo, não tenhamos conseguido mudar o mundo ao nosso redor, mas pelo menos sonhamos e dividimos junto com os nossos, a semente do amor que foi semeada em nossos corações.

Tínhamos motivos de sobra para sermos felizes, pois nada substitui a presença do ser amado, o olhar carinhoso, a mão amiga, a palavra de carinho e de conforto, o abraço protetor. Ah, como é difícil pensar na distância. As ruas agora parecem largas demais, compridas demais, verdadeiras prisões. Suas casas de fachadas coloridas e azulejadas, não refletem nada mais do que foram um dia. Parece até que o tempo, como um cruel vendaval, pouco a pouco foi ruindo, apagando as cores da tela de nossas vidas, implantando covardemente o cinza das tardes nevadas. Já nem se ouve mais o brado de crianças a correrem seguras e a brincarem de roda. Agora, enjaulados dentro da própria liberdade, buscam atalhos para fugirem da violência: (o boi da cara-preta ) que tanto nos assustou na canção de ninar.

Quem me dera o tempo em que os espaços eram pequenos para tanta fantasia, para tanto sonho. Quem dera o tempo em que nada importava a não ser viver. Quem me dera o tempo em que se podia abrir a janela do quarto no inverno e adormecer ao canto da chuva. Quem me dera, enfim, o tempo em que se podia sentar à janela em frente ao sol poente e ouvir da boca do meu sábio avô, as mais belas histórias do nosso povo, de nossas origens. Jamais conheci alguém tão sábio e tão sensato. Nunca foi a uma escola. O próprio tempo foi seu professor. Sua vida simples, seus gestos claros, a verdade sempre presente nos lábios. Foi ele um espelho de sensibilidade para todos nós. O seu cuidado, o seu zelo para com a família, há de se perpetuar até o fim de nossas gerações.

Eu guardo no cofre do meu coração, sentimentos que comigo hão de atravessar vales e montanhas. Sentimentos estes, que se renovam a cada dia. Pensar no tanto de vida que Deus me deu, nas emoções que tanto vivi, nos vários lugares por onde andei, nos amigos que conquistei. Tudo são como pedras preciosas que sempre estão a iluminar, até mesmo quando os reveses da vida tentam me render. Daí, vôo ao mais fundo dos sonhos e capto o mais simples, sugo a sua essência e corro pra vida outra vez. Ergo os olhos aos céus e agradeço a Deus por estar vivo, e por ter força para renascer a cada dia e, principalmente, por ser protagonista desta coisa tão boa e tão bela chamada VIDA.

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